Como nos referimos ao modelo de língua?
Vítor Garabana Thu 23 Nov 2017 9:42PM
Se quero ressaltar que é a mesma língua que o português, por exemplo em conversas com pessoas portuguesas, galego-português. Mas às vezes com pessoas galegas, para ressaltar a sua utilidade internacional, galego internacional
Gonzalo Constenla Bergueiro Fri 24 Nov 2017 10:22AM
Penso que na Galiza devia ser "galego internacional" e fora complementá-lo, quando for necessário, com "galego-português".
Alberto Paz Félix Fri 24 Nov 2017 4:55PM
Está mal visto este nome por desprezar o facto da Galiza ser o origem da língua, mas a nível internacional é pouco coerente:
Português de Portugal
Português do Brasil
Português dos PALOP (não os menciono a todos por haver limite de letras)
Galego?
F. Vasquez Corredoira Wed 29 Nov 2017 10:32AM
Concordo com o que outras pessoas já dixeram aqui: mais ou menos felizes, as designações propostas não se excluem e até se complementam. Quase todas são 'contextualmente possíveis' . Há que colher uma?
Escolho três.
Ricardo Cabanelas Thu 30 Nov 2017 8:46AM
Como comentaram antes por cá, é a escolha duma marca. Galego-português para fora e galego internacional para dentro, pode ser uma boa escolha. Mas boto em falta uma cousinha. Explico no fio, isto é muito estreito.
Joám Lopes Facal Thu 23 Nov 2017 12:51PM
Galego Agal é denominaçom por excesso referida á norma Agal, a qual, aliás, carece de significado preciso agora que a mainstream da associaçom consagrou na prática o português na Galiza.
Parece um trava-línguas mas é simplesmente a imagem do desconcerto derivado da dificuldade de socializar o já veterano modelo reintegracionista.
Na minha opiniom, desculpem a insistência, galego-português (olhada retrospectiva) e galego internacional (olhada projectiva) som duas boas formas de denominaçons do projecto de re-abiltaçom do galego usual no molde do português usual.
O português da Galiza, no entanto, poderia ser umha boa forma de denominar o formato actual do idioma consagrado pola Agal.
Joám Lopes Facal Thu 23 Nov 2017 8:55AM
O adjectivo é secundário, o substantivo: galego é o que é essencial.
Desconsideradas denominaçons tam torpes como "Português da Galiza" e tam reducionistas como "galego AGAL" ficam as opçons "galego-português" de ampla aceitaçom acadêmica e "galego internacional" que aponta á superaçom da óptica regionalista que couta o idioma.
O assunto fulcral, contodo, é:
acreditamos ou nom numha variante nacional persistente e legítima ou subsumimo-la na categoria residual de subproduto irrelevante do(s) português(es)? That´s the questom, caros amigos
Eliseu Mera Quintas Thu 23 Nov 2017 10:19AM
Antes de mais, acho melhor escrevermos neste fio, como figérom o Eduardo e o Facal (e não apenas na zona de justificação do voto) porque permite uma maior interação no debate.
Quanto ao termo, sinto-me cómodo com todos os propostos, mas prefiro dous: "galego-português" e "galego AGAL". O primeiro, porque descreve uma realidade dificilmente discutível. O segundo, porque pode ser útil pensando em sites que optem por um modelo bi-normativo, onde apareceria o "galego RAG", e onde precisaríamos de um nome claro para a nossa proposta. Lembremos que a AGAL foi quem elaborou o Estudo crítico e, mais recentemente, a Ortografia galega moderna, que abrange todas as práticas reintegracionistas atuais.
Jesus Manuel Valcárcel Thu 23 Nov 2017 10:29AM
Acho que o nome mais ajeitado é o de galego-português, mas também considero afortunada a denominação (um bocadinho pedante e presunçosa) de “galego internacional”. O galego-português é uma única língua que nasce -os primeiros depoimentos escritos são do século IX- no noroeste fa Península Ibérica (Galiza, parte de Astúrias e Castilla, e o norte de Portugal) e que, com a Reconquista, avança por toda a faixa atlántica ocidental até o Algarve. A partir das conquistas de Portugal, o galego-português estendeu-se pelo mundo e, hoje em dia, é língua oficial (como primeira ou segunda língua) de dez estados e outros territórios.
No aquém Minho deu-se um processo de mistura das falas que teve como resultado, em parte, a influência do castelhano na língua da Galiza. Pelo contrário, ao sul do Minho foram as elites as que conservaram a língua e não encontrou dificuldades.
Interessa ressaltar que os especialistas não são capazes de situar no tempo ´o momento´ no que galego e português separar-se-iam (porque Portugal é independente como dissemos desde o século XII, com dom Afonso Henriques) e, no entanto, ambos territórios compartilham uma extraordinária literatura comum galaico-portuguesa entre os séculos XIII e XV. Também não são capazes os especialistas de situar ´um lugar´ no que galego e português separar-se-iam porque as isoglosas não se correspondem com as fronteiras políticas e há um continuun linguístico que, com diferentes variantes, ocupa a faixa atlántica desde o cabo Ortegal ao de San Vicente. Há um continuum linguístico que se mostra com evidência ao norte e ao sul do Minho.
Não é possível estabelecer isoglosas que permitam delimitar o lugar concreto no que transitar-se-ia de uma língua à outra e, o que não tem limites definidos, faz parte por definição de uma mesma entidade. Não há separação nesse continuun nos planos fonético, léxico e sintáctico porque existem variedades diatópicas tanto na parte galega quanto na portuguesa. De modo semelhante, não é possível estabelecer onde acaba o cántabro e começa o burgalés ou onde acaba o espanhol e começa o andaluz, porque se trata da mesma língua espanhola que apresenta diferentes variantes geográficas.
Não estamos ante duas línguas muito próximas senão ante uma única língua no tempo e no espaço. Não estamos ante codialectos com uma origem comum que com o tempo se foram distanciando, senão ante uma única língua que se fala na Galiza (Espanha) e em Portugal. Galego e português foram sempre, historicamente e geograficamente, um mesmo idioma, como ocorre com muitas outras línguas no mundo que se falam em vários países. É a mesma língua que se denomina na Galiza galego e é conhecida internacionalmente como português. O seu nome mais lógico seria galego-português.
Portanto, o termo apropriado para denominar o âmbito da nossa língua não é lusofonía (que lhe outorga a Portugal uma posição de domínio metropolitana com respeito à língua comum que não lhe corresponde), o nome que consideramos mais adequado para a língua comum, à margem de chauvinismos e caprichos, é o de galego-português porque é o que melhor recolhe o seu nascimento nos territórios do noroeste e também a sua evolução e expansão históricas. Por outra parte, essa denominação conjunta de galego-português assemelha-se a outras dobres denominações, para línguas, que existem no mundo: espanhol - castelhano; catalão - valenciano; rumano - moldavo: provenzal - occitano... ou serbocroata.
M Rios Torre Thu 23 Nov 2017 12:01PM
Olá minhas!
Entendo estarmos já
hoje numa época em que, fazer didática comunicativa e de socialização para um
galego convergente com o português, precisa atualizar as estratégias comunicativas para o mundo escolar e da aprendizagem
em geral, introduzindo novos itens lexicais que facilitem a neutralização
de preconceitos isolacionistas tantos.
É por isso que, sem
abandonar expressões tão lógicas e rigorosas como Galego Internacional, Galego-Português, Galego Reintegrado...,
compre ativar mais algumas como a de, eis a minha proposição, GALEGO sem LIMITES.
GsL, e uma locução que, entendo eu, trivializa o potencial do galego
para se achegar ao mundo extra-autonómico, fugindo de brigas académicas várias.
Estamos no tempo de
achegar, diria que mesmo com urgência, a
aprendizagem do galego convergente às escolas e aos licéus com o envolvimento
consciente não apenas d@s docentes de línguas mas também de tod@s aqueles que
lecionam qualquer outra matéria curricular, seja científica, desportiva, técnica
ou humanística. São horas de abrir estes trilhos desde a atividade da AGAL.
Jesus Manuel Valcárcel Fri 24 Nov 2017 10:20AM
O debate polariza-se ao redor de dois eixos: a identidade do idioma e o seu nome. Quanto à identidade do idioma, para o meu parecer, não há dúvidas: trata-se de “galego-português”. Quanto à denominação, é um assunto de imagem corporativa, de mercadotecnia, merchandising… e não há nenhuma denominação neutra (exenta de perigos).
O “galego internacional” chama-se, no resto do mundo, português. Se o português (ou o castelhano, etc.) se auto adjetiva “internacional” não passa nada porque, de facto, o português é um idioma internacional (fala-se nos cinco continentes). Agora bem, o título “andalú internacional” ou “paraguayo internacional” para denominar, respetivamente, o espanhol de Andaluzia ou de Paraguai (onde, por certo, o guaraní é maioritário) esses nomes resultam pintorescos no resto da comunidade hispânica (apesar das suas evidentes particularidades que, como ocorre com o galego a respeito do português padrão, sem dúvida têm). Por igual, a denominação “galego internacional” choca em Valença do Minho porque, ao final, estamos a falar de galego-português (para eles “português”).
Uma opção seria “galego-português (internacional)”, que não esconde o que somos e preserva o adjetivo (internacional), tão importante na Galiza. Acho bem “galego internacional”, como rótulo de entrada, mas em meios científicos e cultos penso que é preferível falar de “galego-português”.
Xurxo do Galheiro Fri 24 Nov 2017 3:41PM
Hai-che modas que nom sobrevivem nem um dia, por isso: Galego-português.
[email protected] Fri 24 Nov 2017 4:06PM
GALEGO REINTEGRADO LUSÓFONO
“Não há pior cego do que não quer ver…………”.
Onde, desde sempre, nossa lingua continuou evoluindo (no espaço-tempo)de jeito expontâneo,natural ….NORMALIZADO E NORMATIVIZADO (sem interferencias imperiais) é dizer a Lusofonia ( acreditan-se sobre uns 250 milhons de interlocutores NA NOSSA LINGUA) .
Outro assunto è o Castrapo.Invento fraudulento de política lingüística que foi criado “ex novo”. UMA LINGUA a partires das mil e uma FALAS (relictus deturpados ) por motivos “mágicos-crenciais-politicos segundo o” Informe Filgueira-Fraga” ( no século XlX o Sr.Pasteur já tinha deixado craro o da generação expontânea).
O que “ clama ao céu “ é que “inteletuais “ de todo o espetro político e do pensamento( os que o povo “da arraia miuda” considera como “estudados”; polas mil e uma prevendas,carguinhos,postos de trabalho,publicaçons varias (em jornais,revistas, editoras….),diretamente dinheiro .Abjuraram do seu compromiso ético-histórico -inteletual – da própria moral pessoal Kantiana;pasando-se a súbditos do Poder estabelecido (por um prato…de moédas). Desolador ¡.
Alberto Paz Félix Fri 24 Nov 2017 5:59PM
Decidi escrever cá o motivo da minha resposta, já que o limite de letras dá-me pouco com o que trabalhar. Acho que pela minha opção ser minoritária, vejo-me obrigado a defendê-la. Não vou criticar as demais opções, pois considero todas ótimas salvo a expressão "Galego AGAL", que daria a entender que a AGAL e SÓ a AGAL é reintegracionista, e que o resto da sociedade galega deve ou bem unir-se a nós ou ignorar-nos. E acho que já sabemos qual seria a resposta da maioria.
Já sei que a minha escolha é pouco popular, e muita gente não gosta desta expressão pois deixa a entender que Portugal foi o lugar de nascimento do idioma e o resto dependemos deste país. Porém, quem entrar em Google e pesquisar "Dicionário português" dar-se-á de conta do grande número de bandeiras brasileiras que aparecem em dicionários duma língua que supostamente deveria ter Portugal como o seu único centro. Apesar de o idioma ser chamado "Português", a grande maioria da comunidade internacional (bem, a comunidade internacional que sabe que existe um idioma chamado português) sabe que ainda que o nome fale de Portugal, é um idioma policêntrico. Prova disto é o facto dos países da lusofonia continuarem a chamar os seus idiomas de "Português" ainda que se separaram de Portugal. Mesmo na Internet os brasileiros põem orgulhosamente nos seus vídeos "PT-BR". Por que não pode ser "PT-GZ/GAL"? Português da Galiza é uma expressão que nos põe a pé de igualdade com o Português de Portugal (que já não seria chamado de "europeu" por ambíguo), o Português do Brasil, o Português de Angola, o Português de Moçambique, o Português de Cabo Verde, o Português de São Tomé, o Português de Guiné-Bissau e o Português de Timor-Leste.
Então, se o nome "Português" já dá a entender que é um idioma com muitas variedades, rico em diversidade e que não só se fala em Portugal, para que vamos a mudar a terminologia? Vendo os comentários postos no resto da secção, a maioria da gente está a optar por duplas escolhas. A mais popular é: Galego internacional quando falamos na Galiza, no resto da lusofonia Galego-português. Nesse caso:
Se eu falar com um galego, dir-lhe-ei que o meu idioma é o Galego internacional.
Se eu falar com um português, dir-lhe-ei que o meu idioma é o Galego-português.
Se eu falar com um inglês, devo dizer-lhe que eu falo "português", pois este é o único nome com o que se conhece à nossa língua no mundo inteiro.
E todo este caos de termos tem exatamente qual função?
Como já disse, não tenho nada em contra do resto de termos cá assinalados, mas eu considero que "Português da Galiza" é o nome que ajudará mais
à nossa língua se integrar com o resto da Lusofonia da maneira mais rápida e simples.
Miguel Penas Sat 25 Nov 2017 11:33AM
concordo em grande parte com o exposto por @albertopazfelix mas eu entendi que a pergunta estava referida a 'Como nos referimos ao modelo de língua?' do ponto de vista dos objectivos da AGAL e de socializar a proposta na Galiza e por isso votei em 'galego internacional' e 'galego-português'... não teria sentido perguntar como se chama a nossa língua, por exemplo, porque tal e como explica Alberto no caso do galego pode ter diferentes nomes dependendo do contexto...
Belém Fontal Sat 25 Nov 2017 11:51AM
Galego internacional é a opção que menos conflito cria mas eu acho que já há que deixar-se de meias tintas. Há que incidir em que o galego é português são o mesmo idioma.
Miguel Penas Sat 25 Nov 2017 10:47AM
A pergunta é "Como nos referimos ao modelo de língua?" por isso os meus votos são 'galego internacional' e/ou 'galego-português'... posto que coincidem com os dous eixos que acho devemos potenciar desde a AGAL no debate sobre a língua na Galiza.
Os eixos da identidade e da utilidade, ambos são compatíveis e mesmo complementares. Ao pensar nisto lembrei um artiguinho, escrito há 7 anos já, e publicado no Novas da Galiza nº94 que se intitulava I+U+i e no que escrevia "Porque aqui está a chave,inovar, I+U+i, Identidade e Utilidade mais inovaçom. Porque temos que inovar, atualizar estratégias e discursos, mas sempre sabendo de onde vimos e sobretodo para onde queremos ir. A inovaçom mais importante que se poderia fazer nas estratégias de impulso e recuperaçom do galego é optar decididamente pola via de convergência com o resto da Lusofonia". Isto foi escrito em Setembro de 2010 e penso que vamos avançando nessa linha, sem negar o passado e construindo futuro: galego, português e internacional.
Miguel Penas Sat 25 Nov 2017 11:45AM
outra questão seria como deve constar a nossa língua nos textos legais galegos, por exemplo no Estatuto de Autonomia, onde acho que deveria aparecer uma expressão indicasse a internacionalidade da nossa língua, como proposta acrescentaria um ponto 2. no artigo 5 que deixasse o enunciado nalguma cousa semelhante a isto:
ARTIGO 5.
1. A língua própria de Galiza é o galego.
2. O galego é reconhecido internacionalmente com o nome de português.
ou outras fórmulas como 2. A denominação internacional do galego é português ou 2. O galego é português, nome de uso comum no ámbito internacional ... ai já seria um trabalho para os juristas, para que garantissem a melhor denominação legal para a nossa língua no sentido de garantir que o galego é português e a inversa que o português é galego
Belém Fontal Sat 25 Nov 2017 11:20AM
Concordo com o exposto por Alberto Paz Félix.
Ângelo Cristóvão Sat 25 Nov 2017 4:28PM
Eduardo Maragoto sugeriu que colocasse aqui este comentário, já publicado na notícia do pgl:
Cabe justificar o nome "galego" de uma perspectiva étnica e histórico-etimológica. Tudo bem. Também se costuma argumentar que a "realidade" social, a "maioria" do povo, não está preparada para aceitar outro nome. É o argumento a que os políticos costumam prestar muita atenção, especialmente em época eleitoral.
Ora bem, há muito tempo, mais de 200 anos, que na Europa só há futuro para as línguas nacionais. As outras ficam no jogo da minorização sob diversos rótulos. O sintagma nominal que usa o "Estatuto de Autonomia para Galicia" para qualificar o galego é "lengua propia". No regime político anteriormente vigente na Espanha diziam "lengua regional" ou "dialecto", e vem sendo o mesmo, sempre definido em relação à língua comum, o castelhano.
Então vejo aqui duas evidências a ter em conta: 1.- O galego não é língua nacional na Galiza nem será ao ritmo que andamos. 2.- O galego converteu-se em língua nacional europeia sob o nome de português em meados do século XVIII. Já o dizia Murguia na altura dos Jogos Florais de Tui. Se isto tem a ver connosco, se nos diz respeito, tenhamo-lo em conta e sejamos consequentes. Ora, também podemos continuar o jogo do isolacionismo, olhar de perfil e dissimular, o que, por certo, se dá bem a alguns galegos.
Ernesto Vazquez Souza Sun 26 Nov 2017 9:00AM
Do meu ponto de vista todas essas denominações são contextualmente possíveis e diferentes, em matizes e sentimentos, a respeito do que queremos destacar em cada momento ou como coletivo.
Mas, para mim, hoje por hoje todas são dependentes, de mais, da história de contra, de resistência, de choque de grupos e da subalternize do reintegracionismo, como minoria, a respeito do modelo isolacionista que apropria do nome genérico.
Devemos deixar de pensar no isolacionismo e nas nossas divisões grupais.
Eu não marcaria mais qualquer matização inter-nós nem com o isolacionismo. O que nós empregamos, na Galiza, hoje, é galego e deve aspirar a ser O GALEGO: o modelo dominante social e academicamente. O que a gente identifique com galego.
No mundo aí exterior, pelo momento, o nome é Português, mas por mim aspiraria também no futuro a que fosse UM PORTUGUÊS reconhecido como tal. O português da Galiza, ou Galego (como e com o status do Angolano ou o Brasileiro).
Saúde,
Ernesto
Jesus Manuel Valcárcel Sun 26 Nov 2017 9:52AM
As leis estão hierarquizadas. Acima está a Constituição, depois os Estatutos, as normas que os desenvolvem, etc. Nenhuma lei de rango inferior pode desmarcar-se (sair-se do marco) das leis superiores que a amparam.
As principais leis que afetam o nosso idioma são o Art. 3º e 27 da Constituição Espanhola, o art. 5º do Estatuto e a Lei de Normalização Lca., de abril de 1983, e os decretos que a desenvolvem
Que o Estatuto reconheça ao nosso idioma o caráter de “lingua propia” foi tomado no seu dia do modelo catalão. É um facto muito importante, muito, porque estabelece uma vinculação (histórica) entre língua e território.
Há duas maneiras de avançar para a consecução dos nossos objetivos: uma legal (conseguindo leis que os favoreçam) e outra… (não necessariamente ilegal) através da ação, persuasão, etc.
Podem-se fazer muitas atividades de promoção mas é muito importante “mudar as leis”, é o mais importante. E talvez essa oportunidade vai-se apresentar pronto. À vista da situação política pela crise na Catalunha vai-se modificar (mais que provavelmente) a Constituição (e com ela, em cadeia como acima disse, as leis subordinadas; isto é, os Estatutos). E esse será o grande momento para atuar. Na minha opinião, chamar só “português” á nossa língua nesse momento seria política e socialmente problemático (e mesmo agora… acho que a sociedade galega não está preparada). Aliás, a denominação “galego-português”, pela extraordinária lírica medieval comum, é conhecida no mundo inteiro. Renunciar a esse binómio seria perder um património muito valioso. Se essa oportunidade chega… (que não é impossível), esse será o momento de legislar que o “galego-português é a língua própria da Galíza”.
Ângelo Cristóvão Sun 26 Nov 2017 5:45PM
Bom, o assunto tem muitas facetas, vertentes e perspetivas. Considerando esta hipótese de mudança constitucional, parece que se abrem possibilidades. Veremos se do âmbito da política, com predomínio do PP, pode vir algo novo.
Imaginemos uma situação em que o galego, oficial "de aquela maneira" na Comunidade Autónoma de Galicia, é reconhecido na Galiza como língua portuguesa, em termos académicos, sociais, políticos e, em última instância, também no plano jurídico. Entendo que o movimento reintegracionista estaria trabalhando para criar uma situação como esta, que implicaria ultrapassar a "interposição" do castelhano, à semelhança do que tem definido Lluís Aracil em termos sociolinguísticos em relação às línguas do espaço Espanhol. Seria, portanto, uma língua oficial da União Europeia em território do Estado Espanhol. Ora, dificilmente se chegará a essa situação evitando usar o nome "língua portuguesa". O que não impede que seja compatível com outras denominações em determinados âmbitos, numa espécie de distribuição de funções. Como diz Ernesto, a situação é complexa e diversa.
Jesus Manuel Valcárcel Sun 26 Nov 2017 9:53AM
Bom domingo.
Ângelo Cristóvão Sun 26 Nov 2017 6:05PM
Para acrescentar outro comentário, paralelo, queria dar uma palavrinha sobre a Galiza e a CPLP. Um dos problemas que encontram o Governo galego e outros representantes do nosso país numa reunião desse âmbito é de tipo hamletiano. Ser mas não ser, estar mas não estar. Numa conferência internacional, perceber o português de todas as partes do mundo, mas dizerem que eles falam uma língua diferente que se escreve de forma diferente. E deixar o público sem perceber nada porque, no fim de contas, os galegos querem estar dentro, ou fora? Vale também para o Consello da Cultura Galega, que, por dizê-lo suavemente, não consegue fazer-se entender ;).
Tudo por evitar dizer que os galegos falamos português, um português algo diferente e tudo o mais, mas a mesma língua. Numa hipotétida entrada da Galiza nesse organismo internacional, uma das questões a negociar entre a direção da CPLP e o hipotético negociador em nome do Governo galego, seria a participação da Galiza nos organismos que regulam a língua portuguesa. Sem uma declaração clara e explícita do Parlamento ou do Governo, através do Diário Oficial da Galiza, de que o português (português padrão) é legalmente válido na Galiza, não poderíamos participar nesses organismos. Estaríamos fora do "núcleo rígido", no melhor dos casos ao nível da Turquia, com consequências políticas negativas para os nossos interesses nacionais. Sirva para refletir sobre esta faceta do assunto.
Joám Lopes Facal Sun 26 Nov 2017 6:30PM
Admiro a facilidade com que galegos ilustrados e activistas lingüísticos prescindem da denominaçom de Galego, sem adjetivos, para o idioma cá nascido, cultivado e resistente.
Tal atitude complementa-se com a entusiasta identificaçom com a denominaçom "Português na Galiza" como signo certo do afastamento do galego de transmisson oral que constitui o nosso alicerce cultural e língua nacional.
Como aderente convicto á tarefa de preservaçom e cultivo do padrom galego do português internacional quero fazer doaçom pública da minha quota-parte de português da Galiza que nom me representa.
Persoalmente, estudo e cultivo o português, o galego, simplemente vivo-o na sua problemática existência. A adesom a um círculo dedicado á difusom português nom me concerne, já estou suficientemente sensibilizado ao respeito.
Alberto Paz Félix Mon 27 Nov 2017 9:29AM
O Joám Lopes Facal, em vários comentários, está a criticar a denominação que eu e outras seis pessoas pelo momento escolhemos: "Português da galiza".
Em palavras do próprio Joám "Desconsideradas denominaçons tam torpes como Português da Galiza (...) O assunto fulcral, contodo, é: acreditamos ou nom numha variante nacional persistente e legítima ou subsumimo-la na categoria residual de subproduto irrelevante do(s) português(es)? That´s the questom, caros amigos." Ademais de citar noutro comentário que: "denominaçom Português na Galiza como signo certo do afastamento do galego de transmisson oral que constitui o nosso alicerce cultural e língua nacional".
Gostaria de responder a estas críticas desde a minha visão. Não é mais que a minha opinião, e respeito a opinião do Joám fronte a minha. Acho que tenho que responder a duas questões:
-Português da Galiza não quer marcar uma submissão a Portugal? É claro que a reunificação linguística com o português, se suceder algum dia, não será um completo benefício para o galego. Formas da nossa língua deixarão de ser utilizadas e outras traídas de fora tomaram o seu lugar. O problema é que a situação socio-linguística atual da sociedade galega impede a criação dum padrão "nacional" próprio e independente, como já mostrou de maneira evidente a normativa RAG/ILG. Num mundo de línguas nacionais, e vivendo numa nação onde mais do 60% da população gosta mais do termo "Região" para chamarmos ao nosso território, com os partidos espanhois monopolizando a nossa política, a defensa do galego sem a ajuda do português é inviável. Ora bem, se nos metermos no sistema linguístico português, o nosso papel inicial seria bastante submisso, simplesmente porque seriamos parte da periferia. O núcleo por suposto não seria só o português de Portugal, mas também o português do Brasil. Quando países como Angola e Moçambique, com muita mais população e economia do que a Galiza, mostraram dificuldades para poder competir com estes dois países, fica mais que claro que Galiza não poderá, num princípio, participar a pé de igualdade com Brasil e Portugal. Esta situação, com certeza, iria mudando segundo se consegui-se a normalização do nosso idioma no nosso próprio país e no mundo. A alternativa a isto seria o que está a acontecer, a espanholização e eliminação da língua galega. Mas, isto não é, como se plantejou durante a Transição, um debate que nós, como colónia, devemos ter sobre qual é o nosso colonizador, pois espanhol e português têm uma relação diferente com nós. O português e o galego, no mínimo, são línguas muito semelhantes com um fundo comum, no máximo, são simplesmente variantes regionais da mesma língua. Uma situação de submissão seria daninha só para aquelas (poucas) palavras de origem popular que por deriva desde o século XV são diferentes ao português, mas estas são escassas, e a maioria das vezes convivem dialetalmente com a forma utilizada no Portugal e no resto da lusofonia. O espanhol é a língua que leva desde o século XV a destruir a nossa língua, cada vez importando-se mais dentro das classes populares e na classe média, e já tendo o controle absoluto da classe alta (que já muitos deles nem na Galiza vivem, nem na Galiza nasceram). Ademais, não só forma parte dum fundo comum diferente, mas ademais despreza o galego e todo o que tenha a ver com ele. Só faz falta que miremos às crianças urbanas para ver como cada vez têm menos acento galego, menos conhecimento do nosso léxico e alguns até um ódio direto pela língua galega, essa coisa rara que se ensina na escola e que lhes resulta muito difícil (a diferença do inglês, que é uma língua precisa e fácil de aprender). Acho que o nosso idioma, neste caso, não tem outra alternativa. Ou nos convertemos, temporariamente, em periferia do sistema português, ou esperamos a que Galiza for independente, é dizer, um milagre.
-Português da Galiza não despreza o galego popular? Todas as denominações cá utilizadas desprezam algo, não há quase maneira de ser "respeitoso 100%" nesta questão. Para podermos denominar ao nosso idioma de maneira correta, deveríamos dizer: "Galego-português-brasileiro-angolano-moçambicano-guineense-caboverdiano-sãotomense-timorense-macaense-goense". É, ainda assim, estaríamos a desprezar a ilha de Príncipe fronte a São Tomé. Ao igual que a denominação "Português da Galiza" não menciona o fundo popular do galego, a denominação de "Galego" simplesmente despreza primeiro o fundo comum medieval partilhado com Portugal, e que depois Portugal conservou; e ademais toda a produção, popular e intelectual, sucedida Além-Minho e além do Atlântico.
Ângelo Cristóvão Tue 28 Nov 2017 1:07AM
Prezado amigo, não posso concordar com o parágrafo "Ora bem, se nos metermos no sistema linguístico português, o nosso papel inicial seria bastante submisso, simplesmente porque seriamos parte da periferia". Pelo menos esse não é o teor nem a atividade da AGLP nos contextos académicos e diplomáticos em que pode participar. Lamento não poder dar mais detalhes. Pensando no espaço da CPLP, em que se definem políticas internacionais de promoção da nossa língua, a participação da Galiza como país só poderia dar-se com a sua admissão formal, e estamos algo longe disso. Por enquanto, como já indiquei, a sociedade civil está representada pola AGLP.
Antia Cortiças Leira Mon 27 Nov 2017 9:51AM
Não poderia expressar melhor @albertopazfelix, obrigada. Além do mais o @joamlopesfacal diz «como signo certo do afastamento do galego de transmisson oral que constitui o nosso alicerce cultural e língua nacional» penso que pelo menos "o português" diz bom e não bueno, sexta e não viernes, e uma listagem infinita, e no que diz respeito à oralidade só é preciso ver que se na marinha (bem longe de Portugal) ainda existe o sesseio em "luz" será porque o modelo de oralidade que conhecemos atualmente não é o mais "antigo" e só é preciso ouvir a pessoal da costa da morte galego-falante e ver que se parece bastante mais com o "português de trás-os-montes" ou até com o "português angolano" do que o de qualquer pessoa de uma cidade galega, neo-falante ou da TVG...
Deixariam às vossas filhas e filhos levarem o apelido da mãe à frente...?
E ainda falando de leis o português é "língua estrangeira" mais "língua ambiental" ao mesmo tempo, e ainda faz parte do antigo nome composto do galego medieval e/ou "galego-português"... Que caos... Podemos alcunhá-lo como o " mil-nomes" ou "inomeável" ou continuarmis eternamente com este debate e não avançarmos mais...
Pasem muito bom dia!!
Joám Lopes Facal Mon 27 Nov 2017 11:16AM
Amigas Antia e Alberto, comparar o galego degradado com o esplendor do português culto nom é honesto.
A suposiçom de que a situaçom de degradaçom do galego e a fraqueza da consciência nacional que a nutre serem processos historicamente irreversíveis pode ser qualificada de derrotismo, moral que nom comparto.
O menosprezo social polo galego ao que aludides é sobejamente superado polo menosprezo polo português e, em consequência, a batalha pola hegemonia regeneradora da galego é mais verossimil que a opçom substitutória que abonades.
O entusiasmo polo sintagma "português da Galiza" --dificilmente compreensível para mim, e mesmo provocativo-- carece de atractivo social no país a nom ser como metáfora dos cursos de EOI.
Em definitivo, o esforço --baldio ou nom-- pola reabilitaçom do idioma dos galegos --podo usar legitimamente a expressom ,espero-- é muito mais produtivo que esse "culto cargo" --desculpade o símil-- que pretende auspiciar as bençons idiomáticas internacionais mediante ritos propiciatórios que eu aprovaria se nom comportassem abjurar do suposto cadáver lingüístico que nos identifica, cuja vitalidade ramanente é a inveja do euskera, por exemplo.
O galego, amigas e amigos, existe e nom vai morrer de hoje para manhã, a sua situaçom é a melhor metáfora da submissom da Galiza que aspiro também a reverter porque na história nada tem a última palavra .
Ângelo Cristóvão Tue 28 Nov 2017 12:58AM
Caro Joám, permite-me discordar e não aceitar a desqualificação (azeda e gratuita) que fazes dos que optamos por salientar a necessidade tornar normal, corrente, comumente aceite, o nome "português" para o galego, dentro da Galiza, o que não exclui necessariamente o uso de "galego" ou outros nomes conforme os casos, como outros intervenientes têm indicado. Do meu lado está quase toda a história das línguas nacionais europeias, que é o patamar onde, supostamente, queremos entrar.... ou não? A isto convém acrescentar o pequeno detalhe de estarmos a fazer isto com mutíssima demora histórica em relação o próprio modelo original. Viria bem aqui citar o artigo de Lluís Aracil "Llengua nacional: una crise sense crítica?"
Pensando em jogar limpo, importa não enganar-nos ou iludir-nos mais do necessário, polo menos quando falamos ou escrevemos entre nós, galegos comprometidos com a língua e com o país. Seria para isto oportuno resgatar a distinção escolástica entre potência a ato. Concedamos que o galego é uma língua nacional em potência, mas não é de facto, polo menos conforme ao que se entende na Europa como língua nacional. Podemos pôr todos os exemplos possíveis a favor, que os há, e muito meritórios, mas são claramente insuficientes. Aqui ao lado temos o caso do asturiano. Afirmar que é língua nacional pareceria algo excessivo, salvo que reduzamos a noção de língua nacional ao absurdo. Para contextualizar o razoamento seria ajeitado lembrar as advertências de Claude Lévy-Strauss sobre os usos oportunistas do conceito de Relativismo Cultural, em Raça e Cultura.
Não compensa trazer para aqui os detalhes das misérias em que nos meteram alguns que se dizem notáveis galegos, esses que nos queriam vender o modelo de "lengua do pobo", lubrificado com altas doses de facilitismo. Esse modelo falhou, tal como advertiam repetidamente Carvalho Calero, Marinhas del Valle ou Guerra da Cal há décadas. Agora há que reformular o projeto e, de facto, em parte, é o que estamos a fazer todos nós, aqui, neste foro e em geral no PGL.
Isto não quer dizer que tudo o que está escrito em galaico-castelhano seja para deitar ao lixo. Haverá que ir pensando em adaptar os textos valiosos para o padrão comum, tal como já começou a fazer a AGAL com o Sempre em Galiza, ou a AGLP com a Coleção dos Clássicos da Literatura Galega.
Recebe o meu mais caloroso abraço e a minha maior consideração.
Antia Cortiças Leira Tue 28 Nov 2017 8:21AM
Desculpa @joamlopesfacal1 eu não comparo pelo bom nem pelo mau, comparo por tudo, igual que digo que nas nossa língua oral diária usamos quase irremediavelmente palavras como bueno ou vale também existem ainda traços que são bem "aportuguesados" se não queres chamá-los de "portugueses" nessa mesma língua oral sempre que não provenha de pessoas neo-falantes e/ou urbanitas-falantes. E também não concordo com o de submissão... mais submissos do que agora não podemos estar... deixamos aquilo que era nosso em mãos alheias completamente. E para recuperar o que é nosso há que estar onde está a nossa descendência. Não é derrotismo nenhum, tudo o contrário, é tentarmos de recuperar uma pouca da hegemonia que nos foi arrebatada, que nos deixamos arrebatar, é voltar a poder dar conselhos aos filhos mesmo que eles não nos/os queiram ouvir... E precisamente pelo que referes na última frase é que acho tudo isto de tanto barulho por um nome um bocado improdutivo (sempre se aprendem coisas de refletirmos conjuntamente), dado que somos a inveja para o euskera no uso interno social e a panaceia para os catalães no uso externo internacional... aproveitemos que o temos tudo! Valorizemos o interno fazendo-o externo.
Antia Cortiças Leira Tue 28 Nov 2017 8:33AM
E entretanto nós continuamos a debater, outros "menos legítimos" vão apanhando posições...
Xurxo do Galheiro Tue 28 Nov 2017 9:10AM
Prezada Antia, o teu argumento parte em grande medida do voluntarismo co que interpretas a "língua". Outros, galegos/as tamém, mesmo docentes de português na Galiza, falam um excelente português e nunca, nunca, nunca falam GALEGO. Por isso, e na minha humilde e amigável opiniom, mais do que ser umha agência do português -e uso propositadamente este nome da nossa língua pluricêntrica- na Galiza (já existem outras associaçons com esse objectivo) seria interessante centrarmos o debate sobre a quem se dirige a AGAL.
Joám Lopes Facal Tue 28 Nov 2017 10:09AM
Excelente apontamento, Xurxo; pola minha parte podo acrescentar outro: tanto se degradou o galego durante a limitada vida da AGAL como para acabar concluindo que se trata dum romance irrecuperável? E aínda: é razoável educar @s noss@s filh@s em português -- últra minoritário na Galiza-- em vez de practicar um galego de qualidade que podam identificar com o idioma que escuitam a cotio?
Ângelo Cristóvão Tue 28 Nov 2017 10:37AM
Caro, seria desonesto apresentar ou identificar língua portuguesa só com o padrão de Lisboa. Em qualquer caso, um galego de qualidade, que é o que tentamos todos criar e promover, oralmente e por escrito, mantém uma distância notável em relação às falas populares, em maior ou menor medida castelhanizadas. Pode registar-se uma enorme variação dependendo da procedência, idades, formação, etc. O modelo está bastante bem definido por António Gil quando explicou o que é a correlação diglóssica entre um modelo A de língua culta e os falares da mesma língua, como condição de normalidade. Acrescento um caso concreto. Não conheço todas as pessoas da paróquia de minha mãe, S. Julião de Lainho (S. Gião está registado no Livro de Notas do Notário de Rianjo, século XVI). Ora, a pessoa com a fala mais bonita é uma vizinha que conheço e me disse que mora na Marinha Grande. Está exposta ao português de Portugal. Conserva a pronúncia do galego da sua aldeia melhorado com léxico bastante correto. "Infelizmente" não conseguiu aprender a fazer o thetacismo. É um caso a redimir. Talvez por isso poderia ser chamada de lusista. Porém carece de qualquer intencionalidade. Nem sabe o que é a AGAL nem o reintegracionismo, mas fala português a teor do critério de Portugal. Um português algo diferente, que poderia ser identificado do Norte, se calhar de Bragança... Ora, quem pode manter que o falar da minha vizinha de Lainho não pode levar o rótulo de "português"? Ou só pode levá-lo a sul do Rio Minho, e, enquanto permanecer no território galego, só pode chamar-se "galego", para não atraiçoar não-se-sabe-que moral?
Antia Cortiças Leira Wed 29 Nov 2017 11:35AM
@xurxodogalheiro Não concordo com essa apreciação que fazes da minha opinião. Espanholas-(galegas) na Galiza há muitas pessoas... Eu não estou a pensar nessas pessoas, mas mesmo essas pelo menos conheceriam a "uma versão mais alargada" da nossa língua, da sua língua mesmo que essas pessoas não a considerem sua... não sei se me faço entender mas tanto faz. De resto acho que então o galego RAG está perfeito como está sendo=galego-castelhano=portunhol=castrapo, à imagem e semelhança do spanglish.... Essa é uma outra opção para a nossa língua, válida e possível e até, muito factível de facto... dado que é o resultado natural da mistura entre português e espanhol. Poderá ser de facto uma das línguas predominantes do futuro...
Raul Rios Mon 27 Nov 2017 10:08AM
Se o que estamos a debater é a melhor maneira de comunicar com o resto da sociedade galega, acho que a melhor opçom é galego internacional e, adicionalmente, galego-português, ao enfatizarem a identidade do idioma e a sua utilidade internacional. Também gosto das outras opçons, e dependendo do contexto também as utilizo habitualmente na minha vida, mas temos de adaptar a mensagem à audiência.
abanhos Mon 27 Nov 2017 10:34AM
Português da Galiza tem uma cousa poderosaA) É um questionamento vem direto do estado e a nossa inserção nele.
B) É a opção mais subversiva
Afirmar-nos portugueses do jeito que for e independentenente do que quiser ou gostar Portugal, é construir uma Galiza des-submetida à Castela(espanha).
Alem disso tudo, todas as denominações são válidas, e há que ter a flexibilidade para usar a que for mais conveniente em cada caso ao destinatário da nossa comunicação.
O que não se pode, é dizer não se deve, é pisicionar ao interlocutar de partida enfrentado a nós como um frontão, deve-se sempre partir do lugar onde ele está e ajudá-lo a caminhar.
Isso sim frente a Castelhano/espanhois e no seu âmbito, sempre português (Da Galiza).
Sobre isso tenho eu uma anedota muito instrutiva, se alguém tiver interesse, conto.
Abanhos
Jorge Diz Mon 27 Nov 2017 12:15PM
Como já digerom algumhes companheires, quase todas estas denominaçons podem ser válidas a depender do contexo.
«Galego AGAL» para falarmos dumha escolha específica, «galego-português» para abranguer o sistema PT-BR-GL-etc sem gerar rejeite entre os galegos, e mesmo «português da Galiza» num contexto tuga ou brasileiro. Mais nom esquezamos que a quem hemos de convencer é aos nossos compatriotas.
Eu, até hai pouco, chamava-o de «galego reintegrado», umha denominaçom que ainda vejo acaida para remarcarmos o objetivo principal, mais constantemente bato coa constataçom de que o público geral nom entende a referência. «Reintegrado, onde? Com que?». Logo bem, «galego internacional» esquiva essa dúvida aportando ao mesmo tempo umha conotaçom muito positiva. Ninguém vai estar em contra de fazer o galego mais internacional. De feito, a ortografia internacional (malia afastar-nos dos nossos vizinhos asturianos) achega-nos nom só ao português senom tamém ao resto das românicas.
Em resumo: acho que a forma geral mais pedagógica e com melhor marketing actualmente é GALEGO INTERNACIONAL, mesmo se algumha das outras pode ter os seus usos segundo contextos.
Ernesto Vazquez Souza Tue 28 Nov 2017 10:16AM
Mais que vos leio e mais que vos vejo debater arredor, mais que reafirmo que para além da escolha, no fundo é um problema (sério) de perspectiva.
Para mim que mesmo dentro do reintegracionismo os esquemas mentais do nacionalismo espanhol e do isolacionismo são poderosos.
As nossas metáforas, palavras não podem ser dependentes destes esquemas.
Em primeiro lugar é preciso que no reintegracionismo (de uma vez) trabalhemos por fixar o conceito da identidade GALEGO = PORTUGUÊS e PORTUGUÊS = GALEGO... isto nos permitiria que quando o pessoal veja numa máquina ou num envase a opção em Português aceite que é GALEGO e que o galego está a ser usado já, de feito, internacionalmente...
Em segundo lugar. Não podemos enxergar o mundo com olhos de colonizados, de periféricos subalternos ?: nós somos o centro do mundo. O que eu escrevo é tão Galego como o Galego que falo, e pretendo e trabalho para que seja O GALEGO.
Marcar no meu galego, na sociedade galega, que é galego-português ou galego internacional, não me interessa, porque eu quero que o meu galego seja o GALEGO culto, que represente as formas populares e tradicionais em uso, modernas ou antepassadas.
O meu Galego é Português. E o Português é a minha língua de cultura.
Portanto, eu, trabalharia para que na Galiza a gente quando ouça e veja escrito galego, pense na tradição reintegracionista e vaia percebendo a isolacionista como uma anomalia passageira. E quando tenha de distinguir, francamente faria a contrário: diria o nosso Português (Galego) ou o Galego (o nosso Português) mas marcaria os outros: fala, escreve o Português de Portugal, o Português de Brasil... Que são outras formas de Galego.
Saúde,
Ernesto Vazquez Souza Tue 28 Nov 2017 10:34AM
E, portanto, não marcaria o nosso, o nosso é o Galego genérico, o mais ajustado à tradição escrita, o mais lógico e o mais útil... o que marcaria é os outros: Como nos referimos a eles? como galego isolacionista, galego ultra-isolacionista, galego de concôrdia espanhola, galego acastelhanado?... mesmo português-isolacionista galego... ?
Jesus Manuel Valcárcel Tue 28 Nov 2017 12:33PM
As mudanças de nomenclatura nunca são inocentes, têm sempre importantes repercussões. Os nomes são muito importantes, por isso considero bem necessário o presente debate: “do diálogo nasce a luz”, Platón dixit). Toda linguagem supõe uma visão da realidade e, por tanto, condiciona o pensamento (sapir-whorf). Na minha opinião é muito importante acertar com o nome (ou nomes) mais ajeitados para acercar-nos, com sucesso, à sociedade (potenciais receptores): “galego internacional”, na Galiza, pode resultar interessante como rótulo de márketing mas também “galego-português”, e também os outros, nos seus diferentes contextos. Acho que o importante é ressaltar a importância desses contextos (pragmática) para utilizar, em cada circunstância, a denominação mais adequada.
Quanto à identidade do idioma, para mim não oferece dúvidas: o galego-português (que não é uniforme na Galíza: eis o “mindoniense”, a “fala dos branhegos”, que dizia o Noriega) é um continuum ibério e uma única língua a nível mundial com as suas variedades porque se fala em territórios muito amplos, como o castelhano, inglês, etc.
Daniel Amarelo Montero Tue 28 Nov 2017 5:23PM
Gosto da viragem cara à denominação "galego internacional", mais moderna e menos autocentrada, assim como o já clássico e facilmente identificável pola sociedade "galego reintegrado". Porém, um dos problemas da primeira das duas é a existencia sugerida de um "galego nacional", para aqui, para "nós", enquanto o padrão portugues fica como uma ferramenta útil se quisermos tirar proveito de ações internacionais (uma linha discursiva que até o oficialismo pode aceitar e mesmo aceita, de facto). Outros termos como "galego AGAL", demasiado redutor e identificativo, "galego-portugues", um bocado mais académico e já desgastado, ou "portugues da Galiza", que gera bastante pouco consenso dentro dos diferentes individuos e entidades reintegracionistas, para além de que desvirtua o conflito linguístico e o sentimentalismo que, inevitavelmente, existe neste País.
José Felipe Fernández López Wed 29 Nov 2017 1:46PM
1) Se não entendo mal, o que estamos a escolher é uma marca, não o nome filológico da nossa língua.
2) Toda marca tem que ter conotações positivas, atraentes, etc. para maioria da população, ou, pelo menos, para um segmento importante dela. Ou seja, a gente tem que gostar dela.
3) Portanto:
• Galego Agal, Galego reintegrado e Galego reintegrado na lusofonia não servem. Só fazem sentido dentro do próprio grupo(s) reintegracionista(s). Nós já estamos convencidos. Para isso não precisamos duma nova marca.
• Galego tampouco vale. É uma marca muito usada e com não muito êxito. De facto, o que andamos a procurar é uma marca que substitua a tradicional, a marca Galego.
• Português e Português da Galiza, também não valem. São várias as razões disto, mas aqui citarei só a principal. Portugal e os outros países de fala portuguesa são vistos no imaginário popular galego como lugares não muito desenvoltos, um pouco ou muito mais pobres do que nós, etc. Enfim, lugares aos que podemos ir de férias, mas que não são ótimos para emigrar. Se Portugal um dia fosse rico ou o Brasil se tornasse realmente “no país do futuro”, então podíamos falar de novo sobre esta hipótese.
• Galego-português, ainda que eu gosto dela para denominar a língua, como marca tem problemas. Fala do passado e não resulta evidente evoque um projeto de futuro prospero.
• Fica Galego internacional que é a boa. Parece moderno, próprio das novas gerações, ninguém tem motivos para rejeitar a expressão, etc. Pode funcionar. Até penso que a bastantes galegos e galegas não lhes pareceria mal a possibilidade de viver ou emigrar ao país do galego internacional.
Jesus Manuel Valcárcel Wed 29 Nov 2017 5:34PM
Como diz o José Felipe Fernández López no fundo do que se trata é de encontrar uma marca de sucesso: novidade de choque (na Galiza), é surpreendente e chamativa (vai suscitar interesse nos meios), sugere universalidade e abertura de horizontes, implicação de estímulos emocionais próprios e expetativas favoráveis de futuro… junta muitos aspetos positivos: avante pois o “galego internacional”. E que funcione!
Ricardo Cabanelas Thu 30 Nov 2017 9:07AM
Olá a todo o mundo. Estou a gostar do debate. Sempre é bom ler bons argumentos. O que sim boto em falta é que se estamos a debater como nos chamamos (nós), acho o debate algo assimétrico. Haveria que debater como chamamos aos outros, não e? Se estamos a falar duma marca somos galego +qualquer cousa, os outros serão galego +qualquer outra cousa, também. Ainda que acho está um bocado longe, como diz o Ernesto há que lutar pela hegemonia do nome. Qualificar aos do outro lado do espelho, pode ajudar. Abraço
Breixo Thu 30 Nov 2017 5:01PM
Sem entrar no fundo do debate em si, hai umha questom prévia que penso que haveria que considerar. Acho que seria bom termos em conta a nova situaçom na que nos achamos, em que a AGAL teoricamente assume como próprias duas normas (ainda que por vezes se apresentem como umha única) e outra associaçom e a sua Comissom Lingüistica assumírom também o trabalho de regulamentar o padrom galego da nossa língua comum. A situaçom é algo confusa para a gente que pratica o reintegracionismo na escrita (e mais ainda para a gente que ainda nom o fai), e acho que na questom das denominaçons deveríamos ajudar a aclará-la, nom a enredá-la mais.
Isto é: a nível pedagógico nom teria muito sentido denominar da mesma forma o padrom próprio e o padrom de Portugal (ainda que a AGAL assuma agora ambos), por muito que as diferenças sejam muitas ou poucas ou da consideraçom que cada quem tenha da necessidade (ou nom) da existência do primeiro.
Joám Lopes Facal Sun 3 Dec 2017 6:15PM
Acho muito oportuno suscitar (ou ressuscitar) a questom dos tres paradigmas em conflito latente no galego atual: o padrom nacional galego (AEG, e com a boca pequena AGAL) o padrom duplo com domináncia do padrom de Portugal (AGAL) e o padrom pan-lusista --non é?-- AGLP. Fica por último (e como o primeiro em uso e reconhecimento institucional) a norma RAG-ILG que a gente conhece simplesmente como "galego" e nom parece útil discordar.
Fora dessa modalidade demótica, consagrada e orçamentada que a gente conhece como galego, e do padrom diferenciado e singular, desenvolvido até o momento pola AGAL histórica e custodiado hoje pola AEG, que eu denominaria com gosto galego-internacional pola sua manifesta ancoragem galega e intercomunicabilidade com o universo pòrtuguês, nom seria razoável qualificar pura e simplesmente de português o resto dos paradigmas coexistentes na Galiza en honra da claridade pedagógica?
Qual pode ser a utilidade de manter associaçons de cultivadores de um padrom indistinguível do português padrom que pode prescindir sem dó de umha equipa especializada no cultivo e desenvolvemento da norma, precisamente por ficar já esta perfeitamente desenvolvida?
Ernesto Vazquez Souza Mon 4 Dec 2017 8:12AM
Discrepo, como sabes, e muito desse esquema conceitual teu. Eu penso que não existem três, nem mesmo quatro modelos. Era boa existirem... o que existe é um continuum entre os cultores do ILG mais castelhano (aqueles que tendo uma base cultural castelhana, dão uso de mínimos a um galego "institucional") e os cultores galegos de português (isto é aqueles galegos que aprenderam direitamente português passando ou desconhecendo já o galego)...
No resto de nós, naqueles que pretendemos um galego pleno, acho que apenas há uma rede de conexões, um continuum de usos e formas, as mais delas de teor estilístico que normativo, apenas mediatizado por três elementos marcantes:
- Nível e importância da formação gramatical e académica em português e conhecimento e frequência de consumo do português literário contemporâneo.
- Proximidade ou distância com o galego oral e conformação como elemento constitutivo na base da língua escrita/culta.
- Conhecimento, consumo e impacto da tradição literária galega (os galegos literários e do castelhano da Galiza do XIX e XX) e assimilação dela na escrita e na fala.
Nesse sentido acho que há elementos muito mais conformativos da língua e do estilo das pessoas. O pentavocalismo e a ortofonia de falantes de castelhano, somada à frequentação de um galego oral (ativista e académico) de liceu e no ambiente da universidade, sobre o que se levantou um edifício de leituras lusófonas contemporâneas, e corrigido com um profundo estudo Académico (modelo EOI, Cursos de Português de Portugal)... new way
Ou a contrário galego oral familiar, social + estudo de galego pre-norma ILG (pos-normas ILG) + tradição literária galega + algo de português autodidata... old style...
No meio todas as combinações possíveis...
Para mim que a questão ortográfica não deixa ver a realidade... Por que já me dirás que tem a ver o modelo de língua marcadamente português e moderno de Garrido, Quiroga, Valentim, Eduardo, Maurício, Bea Bieites, Alfredo Ferreiro... com o teu, o meu, o da Concha Rousia, Penabade, Estraviz, Isabel Rei, Corral, Paulo Rico... marcadamente galego (e no nosso caso arcaico na escola Carvalho-Marinhas del Valle).
A linha marcante é a proximidade ou não na base do PORTUGUÊS ACADÉMICO e ATUAL...
E nesse sentido o não modelo AGAL atualmente é o que recolhe: a inexistência de uma única norma modelo, num salto estratégico cara aquele objetivo de "primeiro normalizarmos (o reintegracionismo), depois normativizarmos"...
Isso é útil? eu acho que não também para a criação de um conjunto de modelos... mas também entendo que talvez o laissez-faire, laissez-passer é o único possível nestes momentos...
Porque desde logo e tal e como evidenciam - para além da carragem - os artigos de Garrido é que não existem normas feitas consolidadas e tudo é um navegar a língua como se fóssemos vikings ou fenícios...
Joám Lopes Facal Mon 4 Dec 2017 5:26PM
Em óptica sociológica, Ernesto --nom ótica, por favor-- eu vejo a deriva do reintegracionismo actualmente em curso da seguinte maneira:
Um ténue círculo de iniciados nas sutilezas do português --de procedência e profissom mormente acadêmica-- conseguiu introduzir potentes "marcadores identificativos" inequivocamente portugueses --"coração" por "coraçom", "fui" por "fum" por exemplificar em breve-- com a imediata consequência de projectar sobre o discurso reintegracionista o estigma social do alheio frente ao próprio entorpecendo na mesma medida o seu atractivo social. Em definitivo, umha opçom contrahegemónica, em terminolologia política.
Sabedes que isto nom obsta para o meu apreço persoal polos paladins do português triunfante, variante do meu idioma de instalaçom que eu gosto de cultivar. Obstinaçom? Nom o denominaria assi, persoalmente prefiro falar de lealdade à origem.
Desculpade os amigos divergentes da minha querença polos grupos consonánticos cultos, que eu pronuncio tal qual desde a minha infáncia e ainda me serve para vindicar o nobre arcaísmo do galego.
Betânia Fri 1 Dec 2017 11:23AM
Galego-português
Galego internacional
Lucia Mourullo Cerdeira Fri 1 Dec 2017 4:41PM
Galego Internacional
XAVIER CASTELLANOS Sat 2 Dec 2017 7:59PM
GALEGO-PORTUGUÊS concilia melhor as diversas sensibilidades das pessoas preocupadas na supervivência do galego neste território.
José Luís Sat 2 Dec 2017 10:13PM
Galego
Enviado desde mi iPhone
Eliseu Mera Quintas Mon 4 Dec 2017 5:56PM
Car@s sóci@s, este fio criou-se para realizarmos um debate paralelo à votação das propostas para denominar o nosso modelo de língua. Como esta concluiu três dias atrás, o razoável é que também conclua o debate aqui. Encorajamos-vos a continuá-lo nas nossas redes sociais ou com novas colaborações para o PGL.
O Conselho agradece a vossa participação.
Eduardo Xesús Sánchez Maragoto · Wed 22 Nov 2017 10:08PM
Na minha opiniom "galego-português" é a forma chamada a perdurar, mas há quem diga que esta expressom está demasiado vinculada ao período medieval. Em todo o caso, agora devemos priorizar a mais pedagógica de "galego internacional". É a que mais nos afirma como galeg@s e, ao mesmo tempo, a que ilustra as possibilidades comunicativas da nossa língua.